Eu não tenho vergonha, eu estou vivendo
sair da caverna é entender que, não importa o quão vergonhoso pode ser, você, finalmente, está vivendo.
Esses dias eu estava pensando sobre todas as vezes em que eu deixei de fazer algo, por pensar demais no que os outros iriam pensar de mim… percebi que isso aconteceu muitas vezes.
Quando somos jovens, a opinião dos outros sobre a gente importa demais - por algum motivo que espero um dia descobrir -, mas, estamos tão automáticos a fazer isso, que não pensamos muito sobre as oportunidades que perdemos quando colocamos a opinião dos outros acima das nossas.
Não pensamos sobre a vida que não vivemos quando temos vergonha de viver.
E eu ultimamente tenho pensado sobre isso.
Às vezes, fazer algo que as pessoas não estavam esperando pode ser o maior sinal de que você esta viva.
Gargalhar alto demais pode não ser tão vergonhoso, se você se lembrar que você está rindo porque seus amigos estão ao seu lado, e fizeram uma piada tão boa que você não conseguiu aguentar.
Correr atrás de um ônibus para não perdê-lo pode não ser tão vergonha alheia assim, se você pensar que você precisa daquele trabalho, porque ele te proporciona um salário para comprar suas coisinhas necessárias e para ter alguns momentos de lazer, como ir ao cinema, a um restaurante, etc.
Gaguejar naquela apresentação da faculdade/escola pode não ser o maior motivo de querer se esconder debaixo da coberta, se você lembrar que você vive em um país em que você tem o privilegio de poder frequentar uma escola.
Usar uma roupa diferente do comum pode não ser o fim do mundo, se você pensar que, há alguns anos atrás, você não poderia usar uma roupa assim, porque provavelmente seria acusada de alguma coisa absurda, ou coisas piores.
Dizer a alguém que você a ama pode não ser tão vergonhoso assim, se você lembrar que pessoas não são eternas, e que você se sentiria muito mal se perdesse aquela pessoa, e se lembrasse que ela nunca ouviu de você que você a amava.
Escrever um texto e postar em uma plataforma pode não ser tão vergonhoso, se você pensar que você tem muitas palavras e reflexões incríveis para guardar só para si, você pode impactar tantas vidas com suas palavras.
Ter vergonha de ser você mesma pode não fazer tanto sentido, depois que você pensa que você esta vivendo.
Quando você reflete sobre todas essas coisas “vergonhosas” que deixa - ou já deixou - de fazer, você consegue perceber que foram momentos que você deixou de viver.
Você não precisa ter vergonha, você está vivendo.
Eu já passei por momentos em que até mesmo o dia mais feliz se tornava um dia em que eu só queria chorar, até mesmo o momento mais especial, se tornou um momento obsoleto.
Até os meus medos mais simples eram grandes demais para suportar, até aquela dor esquecida voltava para me assombrar.
Tempos onde respirar era dolorido, e viver era uma tortura pessoal contra o meu ser.
Dias que se passavam sem eu sentir a necessidade de me alimentar, de levantar da cama, ou até de me movimentar.
Dias tristes. Dias dolorosos. Dias sombrios. Dias que não voltarão nunca mais.
Mas, chega um momento, em que esses dias passam… e as cores voltam, e a alegria em comer uma batata volta a vir a tona, em que a vontade de levantar da cama bate sua porta, em que se movimentar não é mais uma tortura e, sim, uma salvação.
É esse momento que se torna a sua virada de chave.
Não importa mais se aquilo pode ser vergonhoso, se você esta rindo alto demais, se sua roupa não é como a de todo mundo, se você canta baixinho e sozinha a sua música favorita olhando pela janela do ônibus cheio, se você diz “eu te amo” para a sua mãe naquela manhã qualquer, se você vai naquele parque sozinha e fica sentada lendo ou escrevendo, ou se você vai vender uns docinhos na sua faculdade…
Você não tem mais vergonha, porque aquilo significa que você está vivendo.
E para aqueles que já passaram tanto tempo enterrados na sua própria apatia, viver de verdade significa tudo.
Bem, que tal você começar a usar essa frase consigo mesma também?
Quando você pensar que aquilo pode ser vergonhoso, que podem rir de você ou falar de você pelas costas por alguns minutos, lembre-se de que viver é isso.
Lembre-se daquela sensação de não querer continuar vivendo, e, só deixa pra lá, é a sua vida, e você sabe muito bem o quanto viver de verdade é bom.
Eu queria muito trazer aqui uma carta que foi um dos melhores momentos de uma das minhas séries favoritas e, de certa forma, na época, mudou um pouquinho da minha vida e me tirou um pouquinho da caverna em que eu estava.
Espero que também mude um pouquinho a vida de vocês também!
“Sentimentos. Jesus. A verdade é que, por muito tempo, eu esqueci o que eles eram. Eu fiquei preso em um lugar – em uma caverna, você poderia dizer. Uma caverna escura e profunda. E aí, eu deixei alguns waffles na floresta e você entrou na minha vida e… pela primeira vez em muito tempo, eu comecei a sentir coisas de novo. Eu comecei a me sentir feliz.
[…]
Mas eu sei que você está envelhecendo, crescendo, mudando. E eu acho… se eu for realmente honesto, que é isso o que me assusta. Eu não quero que as coisas mudem. Então, eu acho que talvez seja por isso que eu vim aqui, para tentar talvez… parar com essa mudança. Voltar o relógio. Fazer as coisas voltarem a como eram.
Mas eu sei que isso é uma ingenuidade. Apenas… não é como a vida funciona. Ela está em movimento. Sempre se movendo, quer você goste ou não. E sim, às vezes dói. Às vezes é triste e às vezes é surpreendente. Feliz.
Então, quer saber? Continue crescendo, garota. Não me deixe impedí-la. Cometa erros, aprenda com eles e, quando a vida lhe machucar – porque ela vai – lembre-se da dor. A dor é boa. Significa que você está fora daquela caverna.”
– Jim Hopper ( Stranger Things, Netflix )
aff lary, me fazendo chorar as 10:00 da manhã. esse texto inteiro me doeu bastante em algumas partes, me fez perceber como constantemente eu me prendo em frações de quem sou porque pode não combinar muito com a minha realidade, com as pessoas ao meu redor, com o meu ambiente. eu sempre fico pensando em como viver sendo quem eu sou, seja internamente ou externamente, é constantemente um motivo de crítica a mim mesma. mas são as frases que você colocou no texto que servem pra dar um mínimo de lógica pra minha ansiedade patológica, são elas que tiram a gente da nossa “bolha” sabe? mt obg por esse texto, eu estava precisando chorar um pouco
Acho que para mim essa é uma das maiores coisas que eu venho aprendendo principalmente depois da vida adulta. Quando era adolescente, acho que qualquer adolescente, a gente vive muito dentro daquela bolha da vergonha, né? Vergonha de viver, de sentir, de fazer, de acontecer... Acho que depois de adulto eu fui perdendo um pouco isso mas isso ainda é muito presente em mim, principalmente porque no meu caso eu sempre fui uma pessoa que reprimia muito os meus sentimentos. Eu tinha vergonha de sentir porque eu sempre sentia de forma exagerada e quando minimamente mostrava isso as pessoas agiam como se fosse uma coisa muito uau! Aprender agora depois de adulta que tá rudo bem! Eu só tô vivendo e sentindo as coisas, e nada é vergonhoso e que se for vergonhoso também fodasse! É uma coisa muito incrível para mim eu acho que é um dos melhores aprendizados que a gente pode ir carregando e aprendendo todo dia cada vez mais ao longo da vida.